O Nakagin Capsule Tower já parece que foi feito de elementos LEGO. usuário do Flickr Espaço, Tempo e realidade descobri como fazê-lo em microescala.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Entrevista de Kisho Kurokawa
O anexo do Museu Van Gogh, em Amsterdã, é o resultado da simbiose entre a cultura européia e a cultura japonesa. E que cultura européia naquele lugar? Justamente a da geometria, porque o prédio principal do museu foi desenhado por Gerrit Rietveld, um dos fundadores da arquitetura contemporânea holandesa. E uma das principais características de sua arquitetura é a composição geométrica, que ele trouxe da pintura de Mondrian. Talvez sua obra mais conhecida seja a casa "Schröder", em Utrecht, que é quase uma tela de Mondrian colocada em 3 dimensões. SINTAXE DA ARQUITETURA E em relação ao Museu de Wakayama? Para explicar, vou fazer uma analogia com a escrita. Nós temos as letras fonéticas ocidentais, a,b,c,d etc. E uma letra só tem sentido se combinada com outras para gerar palavras e significados. Por outro lado, temos as letras chinesas, que são ideogramas. Por exemplo, meu nome Kurokawa....o ideograma kawa vem da representação de um rio, das linhas que representam a água correndo. Não é um signo fonético, é um símbolo. O ideograma chinês Opá, que significa pássaro, deriva do desenho de um pássaro. Então, uma letra chinesa sozinha tem um sentido completo... Na cultura européia clássica pode-se usar elementos geométricos (cones, cubos, esferas, prismas) como fonemas que compõem um discurso, um eixo urbano, por exemplo. MOVIMENTO MODERNO Em seu livro mais recente, "Each One a Hero", o sr. faz uma crítica negativa ao modelo de urbanismo preconizado pelo CIAM e concretizado em Brasília, Chandigard (Índia) e em algumas intervenções realizadas em espaços urbanos de vários países ao longo do século 20. Parece-me que o sr. considera a proposta da arquitetura e do urbanismo moderno demasiadamente racional, permitindo apenas uma "leitura" e, de alguma forma impedindo o devaneio humano... Uma obra como a Catedral de Brasília não permite essa leitura múltipla, comum às verdadeiras obras de arte? No centro do Movimento Moderno está (Walter) Gropius, que trabalhava com muita rigidez na Bauhaus. E as idéias de Le Corbusier, incluindo o conceito urbano do "dominó" nasceram também no centro do Modernismo. Mas Corbusier, que viajou pelo mundo, conheceu arquiteturas e arquitetos de várias partes do mundo, estendeu o conceito do Movimento Moderno para bem além disso: a igreja de Rochanp é um ótimo exemplo de um expressionismo que se afasta da ortodoxia do modernismo. Corbusier avançou para a periferia do Movimento Moderno, onde estão nomes como Oscar Niemeyer e Alvar Aalto. Acho que Niemeyer conseguiu realizar uma simbiose entre o International Style e o Barroco brasileiro. Alvar Aaalto já começou a trabalhar nessa periferia do Modernismo e aí se manteve. Vamos falar sobre sua forma de trabalhar. Como o sr. inicia um novo projeto? Os primeiros passos são feitos com computadores, com lápis, ou "na cabeça"? É muito simples. Primeiro eu procuro ouvir o cliente e esta é a etapa mais importante. Gasto a maior parte do meu tempo de trabalho conversando com o cliente, tomando notas e procurando entender exatamente o que ele necessita, qual é sua cultura arquitetônica, que imagens ele deseja encontrar no projeto. A partir daí, passo a desenhar, faço esboços, centenas de esboços até amadurecer as idéias que vão surgindo. Esse processo mental serve até mesmo para uma obra complexa, como um aeroporto? Sim. No aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, a partir das discussões com o cliente, eu decidira fazer uma cobertura abobadada que tivesse referências nas construções islâmicas. Imaginando a estrutura, notei que usar pilares cilíndricos traria sérias complicações construtivas para o travamento da estrutura. Então, imaginei um pilar em tronco cônico, capaz de absorver melhor os esforços horizontais da cobertura. Quase simultanemente notei que aquele formato funcionaria bem para a condução do ar refrigerado desde o subsolo, onde estariam as máquinas, até o último pavimento, o de embarque. Falando sobre urbanismo, sua proposta para as cidades do século 21 sugere uma diluição das fronteiras entre rural e urbano através da construção de novos centros capazes de receber as mais novas tecnologias de informação, construção, transporte, comunicação, conservação de água e energia, paisagismo e engenharia florestal. Essas "EcoMedia cities" são realmente viáveis? A EcoMedia City pode ser entendida como uma NetWork city, na qual todas as atividades estarão acontecendo de forma orgânica, numa simbiose entre os processos industriais e naturais. Nessas cidades que concebi há uma grande disponibilidade de florestas naturais ou plantadas, para garantir a qualidade do ambiente urbano, há um aproveitamento dos resíduos para reciclagem ou produção de combustíveis, bem como a aplicação de modernas técnicas para conservação e reciclagem de água, conservação e autogeração de energia. CIDADES MUNDIAIS Como o sr. sabe, o ambiente urbano está gravemente enfermo em cidades como São Paulo, México, Jacarta, Bombaim e várias outras metrópoles de países pobres. O sr. acredita na possibilidade de rehabilitação desses lugares a partir de uma abordagem ecológica, como a proposta da Eco Media City? Cada caso exige um estudo específico. Neste momento, estou tentando desenvolver o conceito de EcoMedia City em Tóquio, que também é uma metrópole cheia de problemas. Desenhei dois canais num lugar onde há 400 anos haviam inúmeros canais que foram sendo gradativamente aterrados. Sobre esses aterros nasceram novos bairros da cidade. Minha idéia é repensar a relação simbiótica entre a água e a cidade, recriando o canal, que daria nova dinâmica ao lugar, criando uma agradável parque de convivência entre as pessoas e a água, com barcaças e barcos de transporte coletivo. É uma área muito valorizada, de forma que seria impossível ao governo desapropriá-la para se fazer um canal. Falando da arquitetura japonesa...Existe ainda uma arquitetura de tradição japonesa ou o processo de globalização está apagando essas marcas culturais nas novas obras construídas? Sim, estamos enfrentando esse problema. Mas lembro que quando começamos a Era Meiji, que foi uma fase de modernização, tudo mudou, inclusive a arquitetura, A Era Meiji foi o momento em que os japoneses se voltaram para a Europa e a arquitetura feita naquele período significou uma cópia das obras européias. Mas a essência da cultura não se perdeu naquele momento. Você pode ver e identificar a pintura japonesa, o paisagismo, a técnica de jardinagem, o artesanato etc. Mas a maior parte da tradição japonesa é invisível: é o pensamento, a leitura, a filosofia, a estética, a forma de comunicação entre as pessoas. E qual é o status da arquitetura no Japão de hoje? Como em qualquer outro lugar do mundo, 95% de tudo o que se constrói no Japão está orientado para o Business, não para a Arte. São raras as obras projetadas por arquitetos como Toio Ito, Isozaki, Tadao Ando, profissionais que como eu se preocupam com a Cultura. As grandes construtoras, Takenaka, Kajima...têm seus próprios corpos de arquitetos, que realizam obras de qualidade, mas voltadas para os interesses exclusivos do mercado, não para a fruição da sociedade. Infelizmente, o interesse pela arquitetura ainda é muito restrito. Texto integral da entrevista concedida a Marcos de Sousa |
Fonte: http://www.arquitectura.pt/forum/f29/kisho-kurokawa-1934-2007-a-8233.html
História da Arquitetura - Torre Cápsula
A nova geração de arquitetos sofreu influência importante de Le Corbusier. O arquiteto projetou, em Tóquio (1955-1959), o Museu Nacional da Arte Ocidental. Le Corbusier inspirou, por exemplo, Kenzo Tange e Tadao Ando, dois dos mais proeminentes arquitetos modernos. Além disso, sua influência abrange um grupo de jovens arquitetos e críticos que surgiu com uma espécie de filosofia que juntava idéias tiradas do design tradicional japônes e da arquitetura pop. O nome dado ao grupo foi de Metabolismo e foi apresentado na Conferência Mundial de Design, Tóquio, 1960.
O grupo era liderado por Kisho Kurokawa. Eles pretendiam criar uma idéia própria de arquitetura e competir com as invenções criadas pelos arquitetos ocidentais. O movimento sugeria uma abordagem biológica ou biomórfica do design, dos edifícios e das cidades. O objetivo era atender as novas demandas de maneira paralela à natureza, mas usando o máximo possível das recentes tecnologias de contrução e comunicação. A Torre Cápsula de Kisho Kurakawa, Tóquio (1972) é um dos exemplos desse movimento.
Os metabolistas japoneses provaram ser mestres do design com muitas construções do tipo e ainda exposições. Foram muitos exemplos, como: o Sky Bulding no. 3, Tóquio (1971), de Youji Watanabe, o Castelo de Juventude Kibogaoko, de Tatsuhiko Nakajima, Shiga (1973) e o Centro de Comunicação Yamanashi, Kofu (1964 - 1967), de Kenzo Tange, um importante arquiteto, mais velho dentre os outros do grupo.
Fonte: A História da Arquitetura, Jonathan Glancey.
Vídeo Documentário
Kisho Kurokawa
Nascido em Kanie (Aichi), Kurokawa estudou arquitectura na Universidade de Quioto, graduando-se em 1957. Frequentou a Universidade de Tóquio, tendo por orientador Kenzo Tange. Kurokawa recebeu o mestrado em 1959 e inscreveu-se para doutoramento mas não o concluiu, abandonando-o em 1964.
Com alguns colegas fundou o Movimento Metabolista em 1960. Era um movimento japonês avant-garde que procurava fundir e reciclar os estilos de arquitectura no contexto asiático. O movimento teve muito êxito, e os seus membros receberam grandes elogios do Cotillion Beautillion de Takara na Feira Mundial de 1970em Osaka. O grupo desintegrou-se pouco depois.
Kurokawa escreveu extensivamente sobre filosofia e arquitectura e foi um professor muito activo. Escreveu que há duas tradições inerentes em qualquer cultura: a visível e a invisível. O seu trabalho, indicava, tinha a tradição invisível do Japão. Em 1972 recebeu uma bolsa da Fundação Graham para ensinar no Museum of Science and Industry de Chicago.
humanismo com estruturas adaptáveis e flexíveis. A torre da cápsula é um dos principais exemplos deste movimento.
Kisho Kurokawa faleceu em 2007,de insuficiência cardíaca aos 73 anos.